Carta: https://www.eaad.uminho.pt/pt/Paginas/CartaAberta.aspx
Ex.mo Senhor Reitor da Universidade do Minho,
Professor Rui Vieira de Castro
Os membros do Conselho Científico da Escola de Arquitetura, Arte e Design sentem profundamente o contínuo e exponencial massacre cometido por Israel contra o povo Palestiniano. Está a acontecer sob o nosso olhar, de uma forma insuportável em Gaza, mas também em flagrante escalada na Cisjordânia ocupada.
Sem nenhuma complacência para com o ataque do Hamas de 7 de outubro, rejeitamos, veementemente, a manipuladora acusação – tão utilizada pela desinformação que permeia os nossos dias – de que condenar as ações de Israel é ser anti-semita. Não é! E enquanto órgão com fortes responsabilidades científicas e de representação perante a sua Escola e a sociedade, manifestamos, em nome do mais elementar humanismo e consciência ética, a absoluta não aceitação de crimes de guerra e da violação das regras do direito internacional.
Perturba-nos o silêncio dos órgãos institucionais da academia portuguesa perante o sofrimento devastador dos Palestinianos, que aparenta refletir uma posição de generalizada “estagnação da alma”, como José Pacheco Pereira lhe chamou, na sua crónica no Público de 18 maio último.
Em Espanha, por exemplo, no passado dia 9 de maio, 76 universidades, através de um comunicado oficial da Junta Rectora de la Conferencia de Rectores y Rectoras de las Universidades Españolas, anunciaram a suspensão dos acordos com as faculdades e centros de investigação israelitas se o governo de Benjamin Netanyahu não acabasse “de imediato” com a guerra em Gaza. Vários são os países europeus em que a mesma posição foi ou está a ser tomada pelas instituições de ensino.
Tudo se torna ainda mais perverso quando o conceito de escolasticídio, enunciado por Karma Nabulsi em 2011, se confirma. No essencial, assistimos a um processo de aniquilação estrutural do sistema educativo de um povo e, como tal, à negação de futuro a um país. Como reconheceu Ghazal Golshiri, em artigo no jornal Le Monde de 7 de Março último, “Todas as doze universidades em Gaza foram alvo de ataques Israelitas.”
É neste seguimento, pois, que nos opomos a qualquer estratégia de branqueamento e encobrimento dos crimes de Israel contra o povo Palestiniano. Não queremos ser cúmplices de políticas e de uma cultura de omissão face a crimes contra a humanidade, sob pena de – lembrando a carta aberta de Jonas Staal dirigida à Deutscher Akademischer Austauschdienst e ao reitor da Universidade de Colónia, em 18 de abril – vermos normalizado, inclusive pelas instâncias que mais criticamente têm a missão e o dever de pensar o mundo que habitamos, um clima de violência em que “nunca mais” se tornou “uma vez mais”. A banalização do mal é inaceitável.
Reunido em 29 de maio de 2024, o Conselho Científico da Escola de Arquitetura, Arte e Design pede o corte de relações da Universidade do Minho com instituições e empresas israelitas, assim como a suspensão das parcerias e protocolos com as universidades do Estado de Israel até ao restabelecimento do Direito Internacional, tal como foi, Super Partes, decretado pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia. E procurando a transparência que se julga indispensável a um processo dessa natureza, solicita também à Reitoria que divulgue a listagem dos acordos existentes.
Concomitantemente, o Conselho Científico da EAAD apela ao estabelecimento urgente de programas de apoio aos estudantes e professores palestinianos que pretendam desenvolver investigação e estudos na Universidade do Minho e em Portugal.
Em nome da humanidade essencial à nossa espécie e da ética básica no relacionamento entre estados, povos e pessoas, solicitamos ao Senhor Reitor, enquanto representante máximo desta universidade, que transmita a nossa angústia e premência – que iremos tornar pública – ao Conselho Geral da Universidade e ao seu Conselho de Presidentes de Unidades Orgânicas, assim como ao Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.
Estamos a viver um momento decisivo, também no que diz respeito ao questionamento das genuínas finalidades da investigação científica, social, cultural e artística. Pensamos que cada entidade envolvida deve assumir individual, coletiva e institucionalmente as suas responsabilidades e agir em conformidade. Apelamos à Universidade do Minho para que o faça. Não escolher será, definitivamente, uma entristecedora escolha.
Com esperança, baseada nos princípios e valores fundadores da nossa Universidade, subscrevemo-nos.
Álvaro Miguel C. J. Oliveira Sampaio
Bruno Acácio Ferreira Figueiredo
Carla Marques Barros Cruz
Cidália Maria Ferreira Silva
Francisco Manuel Gomes Costa Ferreira
Ivo Pereira Oliveira
João Paulo Cabeleira Marques Coelho
Maria Manuel Lobo Pinto de Oliveira
Natacha Antão Moutinho
Paulo Jorge Sousa Cruz
Pedro Jorge Monteiro Bandeira
Rute Alexandra Santos Silva Carlos
Vincenzo Riso